domingo, 4 de maio de 2008

Seleção de Artistas

Pessoas,

a Cia. Les Commediens Tropicales (da qual faço parte!) está selecionando 10 Artistas para participar do Projeto II d.pedro II, contemplado pela Lei de Fomento ao Teatro do Município de São Paulo.

Os interessados em participar da seleção devem acessar o blog II d.pedro II [http://2dpedro2.blogspot.com] e se interar de todas as informações, preencher Ficha de Inscrição e enviar junto com Currículo e Carta de Intenção para o e-mail cialct@gmail.com

As inscrições serão aceitas até o dia 21 de maio.

Dúvidas ou informações, entrem em contato no e-mail: lctropicales@mpc.com.br

Ajudem a divulgar.

Há braços

domingo, 30 de dezembro de 2007

Toda a Quimera se esfuma

A música de Ary Barroso dá o tom:

"Creia
Toda a quimera se esfuma
Como a brancura da espuma
Que se desmancha na areia
"

A nossa não fugiu da morte na praia. Nadou com "braços ágeis", e morreu a morte morrida q a todos abraça, sem nenhuma restrição. Sem grandes dramas, mesmo porque estamos apostando há tempos na morte do infeliz - q quem ninguém ouse chorar! Sem grandes lamentos. Um ano intenso de trabalho. 2007 é o ano da Quimera.

Fiquei cá a pensar, sempre com os botões, que o ator, além de um ser-humano profissional, é um coveiro exemplar. Enterra espetáculo atrás de espetáculo, como parte de sua própria vida que vê e faz surgir e depois se desfaz. Inventa-se e desdobra-se para um ato e depois o mata, com ou sem piedade, com ou sem dor. Um ex-amigo dizia q alguém dizia que "uma obra de arte não se termina, abandona-se". Sempre gostei dessa idéia...

A Última Quimera foi abandonada no domingo (16). Cheia de amigos q preferiram ver a tragédia mais próximos. Dizer adeus no último dia. O único dia de casa cheia. No único dia em q tivemos mais público do q o mês de novembro inteiro! Quem foi, teve direito a tudo. Pessoas atrasadas... Cenas interrompidas. Pessoas ainda mais atrasadas... Cenas q recomeçaram... Risos... Energia boa... Improvisos... O Jonas, nosso VideoCenografista, entrando na querela Bilac-Augusto, deixando seu recado e fazendo da última canção da peça um ROCK de quinta categoria. Éramos todos performadores...! E "daqui por diante, não farei mais versos". Blackout!

Talvez volte... Vamos nos acertando. O projeto novo já começou. Vamos mais uma vez atrás do Processo Histórico. D. Pedro II? Segundo quem? Essa é a questão! Achamos um parceiro para a empreitada. Novos amigos q aparecem todos os dias, basta ter olhos para ver, aqueles ainda não carcomidos pelos vermes!

2008 já começou. A Cia. Les Commediens Tropicales já tem bastante coisa para colocar em dia. CHALAÇA a peça vai passear por 12 cidades de São Paulo. Mais informações lá no blog da PEÇA!

Agradecimentos a todos q carregaram esse caixão. Choraram esse morto. Acompanharam a procissão. Assistiram ao formidável enterro da nossa Última Quimera. Augusto dos Anjos. Olavo Bilac. Raul Pompéia. Shakespeare. Bibi Ferreira. Nossos mortos preferidos!

Esse blog se enterra momentaneamente. Quando os mortos voltarem a falar, tb por aqui voltaremos.

Monólogo de uma Sombra
Augusto dos Anjos

"Sou uma Sombra! Venho de outras eras,
Do cosmopolitismo das moneras...
Pólipo de recônditas reentrâncias,
Larva de caos telúrico, procedo
Da escuridão do cósmico segredo,
Da substância de todas as substâncias!

A simbiose das coisas me equilibra.
Em minha ignota mônada, ampla, vibra
A alma dos movimentos rotatórios...
E é de mim que decorrem, simultâneas,
A sáude das forças subterrâneas
E a morbidez dos seres ilusórios!

Pairando acima dos mundanos tetos,
Não conheço o acidente da Senectus
- Esta universitária sanguessuga
Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
O amarelecimento do papirus
E a miséria anatômica da ruga!

Na existência social, possuo uma arma
- O metafisicismo de Abidarma -
E trago, sem bramánicas tesouras,
Como um dorso de azémola passiva,
A solidariedade subjetiva
De todas as espécies sofredoras.

Como um pouco de saliva quotidiana
Mostro meu nojo á Natureza Humana.
A podridão me serve de Evangelho...
Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques
E o animal inferior que urra nos bosques
E com certeza meu irmão mais velho!

Tal qual quem para o próprio túmulo olha,
Amarguradamente se me antolha,
À luz do americano plenilúnio,
Na alma crepuscular de minha raça
Como urna vocação para a Desgraça
E um tropismo ancestral para o Infurtúnio.

Aí vem sujo, a coçar chagas plebéias,
Trazendo no deserto das idéias
O desespero endêmico do inferno,
Com a cara hirta, tatuada de fuligens
Esse mineiro doido das origens,
Que se chama o Filósofo Moderno!

Quis compreender, quebrando estéreis normas,
A vida fenomênica das Formas,
Que, iguais a fogos passageiros, luzem...
E apenas encontrou na idéia gasta,
O horror dessa mecânica nefasta,
A que todas as coisas se reduzem!

E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes,
Sobre a esteira sarcófaga das pestes
A mostrar, já nos últimos momentos,
Como quem se submete a uma charqueada,
Ao clarão tropical da luz danada,
O espólio dos seus dedos peçonhentos.

Tal a finalidade dos estames!
Mas ele viverá, rotos os liames
Dessa estranguladora lei que aperta
Todos os agregados perecíveis,
Nas eterizações indefiníveis
Da energia intra-atômica liberta!

Será calor, causa ubíqua de gozo,
Raio X, magnetismo misterioso,
Quimiotaxia, ondulação aérea,
Fonte de repulsões e de prazeres,
Sonoridade potencial dos seres,
Estrangulada dentro da matéria!

E o que ele foi: clavículas, abdômen,
O coração, a boca, em síntese, o Homem,
- Engrenagem de vísceras vulgares -
Os dedos carregados de peçonha,
Tudo coube na lógica medonha
Dos apodrecimentos musculares!

A desarrumação dos intestinos
Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos
Dentro daquela massa que o húmus come,
Numa glutoneria hedionda, brincam,
Como as cadelas que as dentuças trincam
No espasmo fisiológico da fome.

E unia trágica festa emocionante!
A bacteriologia inventariante
Toma conta do corpo que apodrece...
E até os membros da família engulham,
Vendo as larvas malignas que se embrulham
No cadáver malsão, fazendo um s.

E foi então para isto que esse doudo
Estragou o vibrátil plasma todo,
À guisa de um faquir, pelos cenóbios?!...
Num suicídio graduado, consumir-se,
E após tantas vigílias, reduzir-se
À herança miserável de micróbios!

Estoutro agora é o sátiro peralta
Que o sensualismo sodomista exalta,
Nutrindo sua infâmia a leite e a trigo...
Como que, em suas células vilíssimas,
Há estratificações requintadíssimas
De uma animalidade sem castigo.

Brancas bacantes bêbedas o beijam.
Suas artérias hírcicas latejam,
Sentindo o odor das carnações abstêmias,
E á noite, vai gozar, ébrio de vício,
No sombrio bazar do meretrício,
O cuspo afrodisíaco das fêmeas.

No horror de sua anômala nevrose,
Toda a sensualidade da simbiose,
Uivando, á noite, em lúbricos arroubos,
Como no babilônico sansara,
Lembra a fome incoercível que escancara
A mucosa carnívora dos lobos.

Sôfrego, o monstro as vítimas aguarda.
Negra paixão congênita, bastarda,
Do seu zooplasma ofídico resulta...
E explode, igual á luz que o ar acomete,
Com a veemência mavórtica do aríete
E os arremessos de uma catapulta.

Mas muitas vezes, quando a noite avança,
Hirto, observa através a tênue trança
Dos filamentos fluídicos de um halo
A destra descamada de um duende,
Que tateando nas tênebras, se estende
Dentro da noite má, para agarrá-lo!

Cresce-lhe a intracefálica tortura,
E de su'alma na cavema escura,
Fazendo ultra-epiléticos esforços,
Acorda, com os candieiros apagados,
Numa coreografia de danados,
A família alarmada dos remorsos.

É o despertar de um povo subterrâneo!
E a fauna cavernícola do crânio
- Macbetbs da patológica vigília,
Mostrando, em rembrandtescas telas várias,
As incestuosidades sangüinárias
Que ele tem praticado na família.

As alucinações tácteis pululam.
Sente que megatérios o estrangulam...
A asa negra das moscas o horroriza;
E autopsiando a amaríssima existência
Encontra um cancro assíduo na consciência
E três manchas de sangue na camisa!

Míngua-se o combustível da lanterna
E a consciência do sátiro se inferna,
Reconhecendo, bêbedo de sono,
Na própria ânsia dionísica do gozo,
Essa necessidade de horroroso,
Que é talvez propriedade do carbono!

Ah! Dentro de toda a alma existe a prova
De que a dor como um dartro se renova,
Quando o prazer barbaramente a ataca...
Assim também, observa a ciência crua,
Dentro da elipse ignívoma da lua
A realidade de urna esfera opaca.

Somente a Arte, esculpindo a humana mágoa,
Abranda as rochas rígidas, torna água
Todo o fogo telúrico profundo
E reduz, sem que, entanto, a desintegre,
À condição de uma planície alegre,
A aspereza orográfica do mundo!

Provo desta maneira ao mundo odiento
Pelas grandes razões do sentimento,
Sem os métodos da abstrusa ciência fria
E os trovões gritadores da dialética,
Que a mais alta expressão da dor estética
Consiste essencialmente na alegria.

Continua o martírio das criaturas:
- O homicídio nas vielas mais escuras,
- O ferido que a hostil gleba atra escarva,
- O último solilóquio dos suicidas -
E eu sinto a dor de todas essas vidas
Em minha vida anônima de larva!"

Disse isto a Sombra. E, ouvindo estes vocábulos,
Da luz da lua aos pálidos venábulos,
Na ânsia de um nervosíssimo entusiasmo,
Julgava ouvir monótonas corujas,
Executando, entre caveiras sujas,
A orquestra arrepiadora do sarcasmo!

Era a elegia panteísta do Universo,
Na podridão do sangue humano imerso,
Prostituído talvez, em suas bases...
Era a canção da Natureza exausta,
Chorando e rindo na ironia infausta
Da incoerência infernal daquelas frases.

E o turbilhão de tais fonemas acres
Trovejando grandiloquos massacres,
Há-de ferir-me as auditivas portas,
Até que minha efêmera cabeça
Reverta á quietação da treva espessa
E à palidez das fotosferas mortas!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O Último da Última

Será o 15º Final de Semana da nossa pecita. Quase quatro meses em cartaz. Mais de 40 apresentações. Um ano de trabalho... Muito trabalho... Trabalho demais... É quase impossível olhar para trás e relembrar todo o percurso. Ainda não estamos maduros o suficiente... Mas a pecita vai-se embora. Passagem... É preciso saber-se passagem.

Tantas pessoas que passaram para q esse espetáculo exista... Para Augusto sair das catacumbas dos poetas mortos... É sempre uma tristeza anunciada saber que uma peça chegará ao seu final. Talvez nos acostumemos um dia. Acostumamos-nos a tudo.

Lembro das últimas apresentações de várias peças que fiz... Tem aquelas que terminam de supetão. Inesperadamente... Acaba. E cantamos: “depois da morte inda teremos filhos”. Cantamos para subir... As últimas três apresentações dA Última Quimera. O final do ano de 2007. Ano impar. É agora ou nunca?!

Pensei em agradecer a todos os que participaram da criação da nossa pecita, mas acho que não prestaria uma homenagem digna da ajuda dada. A Quimera dos mortos veio à luz de velas e de elipsoidais e de carcaças remontadas com colortrans e brilhou e apagou-se... E a nós, como também cantamos, que sirva o vaticínio augustiano/angustiante:

“E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!”

A Cia. Les Commediens Tropicales enterra mais um... E um novo começa a surgir. É o ciclo?!

Aos meus filhos
Augusto dos Anjos

Na intermitência da vital canseira,
Sois vós que sustentais (Força Alta exige-o...)
Com o vosso catalítico prestígio,
Meu fantasma de carne passageira!

Vulcão da bioquímica fogueira
Destruiu-me todo o orgânico fastígio...
Dai-me asas, pois, para o último remígio,
Dai-me alma, pois, para a hora derradeira!

Culminâncias humanas ainda obscuras,
Expressões do universo radioativo,
Ions emanados do meu próprio ideal,

Benditos vós, que, em épocas futuras,
Haveis de ser no mundo subjetivo,
Minha continuidade emocional!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

E tudo passa...

Neste final de semana a Quimera sobreviveu... A desesperança é um paliativo muito poderoso nos tempos atuais. Tire-nos tudo, o que existir depois é alívio... Água canforada sobre o corpo inerte. É como um suspiro antes da despedida final.

A Última Quimera tem mais dois finais de semana pela frente... E depois cumprirá o vaticínio estampado no título da própria peça. Será a última...

Nesta semana um amigo morreu. Arranquem toda a dramaticidade da vida e mesmo assim a morte não deixará de ser dramática. É ela, talvez, a gênese do drama. É ela que pode colocar no homem o único juízo imaterial de todas as nossas ações: estamos a passar.

Mateus Zucolloto passou... Assim: como uma peça de teatro. De curta duração... E chegarão os dias do esquecimento... E esses mesmos dias serão os novos dias das novas peças e dos novos “Mateus” que por eles passarão...

A porra são as peças e os Mateus que passam nos dias em que estou de carona... A porra é saber que não há força nesse mundo capaz de impedir que a peça acabe... Que o público vá embora... Que o vazio nos tome nos braços e nos leve de volta... A porra é saber que a mesma porra é que fecunda tudo de novo... E de novo... E de... Novo?

A Cia. Les Commediens Tropicales deveria, a essa altura do ano, ter o NOVO projeto em gestação... Ou pelo menos no mundo da idéias... Parimos um fracasso e o natimorto espetáculo viu e está vendo a maioria dos seus pais (biológicos ou adotivos) deserdarem...
Estamos a passar... O apego é o mau contemporâneo... Talvez Van Gogh esteja certo!

Um post nada alegre... Foda-se.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Como é um fracasso?

Não sei ao certo, mas acredito que nessa segunda temporada dA Última Quimera, nós produzimos um fracasso. É sempre complicado definir o fracasso e na mesma medida o sucesso de um espetáculo. Aqui, uso como baliza o público espontâneo (aquele que não tem vínculo imediato com alguém da peça) que tem comparecido para ver a peça. Neste último final de semana tivemos, acho, três pessoa assim. Com mais de um mês em cartaz (sem contar a primeira temporada no Sesc Avenida Paulista) o espetáculo não desperta o interesse do público. O tal boca-a-boca não aconteceu. Somos um fracasso.

Tem seu lado divertido, mítico, necessário, incompreendido. Tem tudo isso. Mesmo assim, não é fácil degustar cadeiras vazias numa platéia que cabem “somente” 50 pessoas. O que fazer?, sentar sobre as cinzas da casa, lamentar-se e cocar-se com cacos de telhas como um Jó abandonado por seu deus? Não... Nosso deus nunca nos abandona. Uso esse espaço para refletir:

Fizemos 5 temporadas com CHALAÇA a peça. Exceto a primeira, feita no Sesc, com média de mais 150 pessoas por apresentação, as demais foram quase um fracasso. No Alfa, cancelamos antes do final (lá apresentamos para uma pessoa) – Ah, mas era no Alfa! No TUSP, de quarta e quinta, tivemos média de 25 pessoas. No Sérgio Cardoso, também de qua e qui, médio de 18 pessoas. No Cacilda Becker, final de semana, média de 10 pessoas. Cada temporada com sua característica: anúncio em guias especializados, assessoria de imprensa terceirizada, filipeta, promoção em sites e jornais, críticas... Ingressos entre 10 e 20 reais. Mal conseguimos pagar nossos custos com essas temporadas.

Com a Quimera, temporada no Sesc. 60 lugares. Lotação sábados e domingos, sexta meia casa. Ingresso: 15 reais inteira.

São Paulo Capital é sem dúvida a cidade mais contemplada com verba pública para criação teatral. Basta um breve olhar nos resultados dos editais do Governo Federal e Estadual para perceber o quanto os grupos ou artistas de São Paulo recebem. Às vezes, contemplados pelos dois (Estado e União) e ainda pela Lei de Fomento ao Teatro do Município de São Paulo. Muito dinheiro (talvez não o suficiente, mas colocando em perspectiva nacional, sim muito dinheiro) circulando na cidade de São Paulo para se fazer teatro. E o público? Ele está compartilhando dessa “primavera teatral”?

Conversando com amigos e conhecidos (por enquanto estou no limite da informalidade), descubro que os espetáculos em carreira fora do Sesc vão mal das pernas. Espetáculo gratuito no SESI e com meia casa? Espetáculo na praça Roosevelt com apenas 7 pessoas. Espetáculo no Viga com 10 pessoas. Espetáculo no Teatro Augusta com 5 pessoas. Espetáculo de grupo de pesquisa em sede própria com 3 pessoas... E assim vai... Infinitos exemplos. A lista de convidados com trocentos nomes... E nada.

Há quem aponte o local como o problema: o público não chega, não se desloca. Outros dizem que é o preço. Outros que a qualidade das peças deixa a desejar. Outros reclamam da divulgação... Eu não sei. Percebo que nem a classe teatral vai ao teatro. Alegam falta de tempo... Afirmam que o teatro está chato... Estão em cartaz...

Não sei. É preciso começar a discutir o problema e apontar soluções precisas. É preciso saber, de fato, por que as pessoas não vão ao teatro; e fugir um pouco do achismo (disfarçado de empirismo) dos especialistas de plantão. Indague aos seus amigos e familiares: qual foi a última vez que foram ao teatro e o que assistiram? Respostas são necessárias.
São Paulo tem centenas de peças em cartaz. Dinheiro para quase todos os tipos de produção. Onde está o público?

Minhas últimas experiências com teatro lotado foram: Theatre du Soleil (dã!) e Primus (dia promocional obrigatório R$ 1,90). E aí, por que vc não vai ao teatro hoje?

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Sobre Deleuze, Ganhos e Percas

Tantos textos... Tantas palavras... Palavra dita três vezes. Na peça anunciamos: “não há palavras”, isso depois de mais de uma hora de falação. Sempre me pergunto sobre o que falávamos mesmo?

Esse final de semana teve um acontecimento divertido. Algo que já tínhamos feito no CHALAÇA por motivos mais sérios. Invertemos os papeis. A Paula fez o Primeiro Coveiro na primeira cena da peça e eu (Carlos) fiz o Primeiro Coveiro no embate com o Príncipe Olavo Bilac (Daniel!). Trocamos... Ela fez o que geralmente faço e vice-versa. E... Deu certo. “O que é dar certo?” Vários pequenos erros que tornaram as cenas mais vibrantes porque mexeu em toda estrutura molar da pecinha. “Estrutura Molar”? O Deleuze explica!

Esse amadurecimento vindo de um certo descompromisso compromissado é uma possibilidade de fazer do teatro, ainda, uma zona de turbulência. Um local de incertezas, de vivências e experiências únicas... Efêmeras, sem dúvida. Rizomáticas, sem dúvida 2 (para continuar do Deleuze). Vivas... Intensas... E necessárias.

Sim, foi só uma troca de papeis... Algo q desejávamos desde o Galvez Imperador do Acre. Essa troca faz a posse da ação vir por terra. Faz o domínio da cena vir por terra. Faz o sistema ser mais importante do que o indivíduo e mostra, talvez, possibilidades de se fazer um teatro outro: Inseguro e pronto para o fracasso. Não sei... Devaneios.

Esse final de semana teve um acontecimento triste. Pela primeira vez a Cia. Les Commediens Tropicales teve que cancelar uma apresentação por falta de público. Já fizemos o CHALAÇA para uma pessoa... Nunca havíamos cancelado uma apresentação. Não tivemos UMA pessoa na sexta. É uma sensação estranha. Esperar uma semana para “trabalhar” e não “trabalhar”. Mais uma frustração. Na cadeia dos substratos... Aprendemos mais um... Qual a questão ética causada por essa Dobra?

Desisto de Deleuze para tentar entender esses acontecimentos. Na noite da estréia a Georgette estava conosco e disse: “estamos prontos para o fracasso?” – Nós rimos, gritamos FRACASSO várias vezes... Só acredito que não tomamos a dimensão do que ela dizia... O Gonza (Daniel – ele representa vários papéis) disse no sábado: “mexemos com Augusto e conseguimos um natimorto.” – Como podemos lidar com um artista como Augusto e não nos prepararmos para uma experiência similar? O que de fato aprendemos com aquilo que fazemos? Será que o teatro não perde nunca seu caráter ficcional? Nem mesmo para os artistas envolvidos? Não sei...

Não sei onde iremos parar... Prevejo, triste, que muitos já estejam parando e essa vida líquida tenha nos afogado, a todos.

Sexta, pós-feriado, tem mais. Se você aparecer, estaremos por lá.

“Ganhos e percas”, como dizia o Marcio Aurelio. Por que sempre as “percas” é que se tornam molares.

Fuck of Deleuze!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

“Já contribuiu”?!...

Tem um livro que comprei já tem um tempo q se chama: O Teatro é necessário? O autor é Denis Guenoun. Um dos poucos livros que comprei pelo título. E, talvez, o título seja o q de melhor o livro tenha. A provocação está na cara!

Mais um final de semana dA Última Quimera. Estamos há um mês em cartaz. 12 apresentações. 18 horas de teatro. Muitas flores, pinga, talco, vela, suor... Trabalho. E continuamos no limbo. Sexta, feriado, dia dos mortos, 17 pessoas. Sábado e Domingo, 7 pessoas. E sempre com alguns convidados ou amigos. Ganhamos o suficiente para cobrir os custos do próprio espetáculo. Trabalhamos de graça. Pior... Pagamos para trabalhar.

Não... Eu sei q não somos os primeiros. Quisera fôssemos os últimos.

Apenas cansa. Desanima. Faz a dúvida brotar: o q fazemos é necessário?

No domingo, a dramaturga, jornalista e jurada(!) do Prêmio Shell(!), Marici Salomão, assistiu ao nosso espetáculo. Em determinado momento da peça (num momento de improvisação) perguntei: Marici (sim, chamei pelo nome), você acredita que o teatro contribui para alguma coisa? Ela, em tom muito baixo disse duas vezes: “já contribuiu”... COMO ASSIM?!

Então, o q é o teatro hoje?! Uma desculpa para um prêmio?

Bem... Prometo q numa próxima vez escrevo sobre essas tais premiações do teatro brasileiro... E a Cooperativa Paulista de Teatro, q sempre primou pela sobriedade (e nem sempre conseguiu) entrou na onda dos prêmios.

Olha... Esse final de ano dedico-me a entender o q se passa com o teatro paulistano. Trabalho hercúleo, claro!, e desnecessário... Mas, hoje tenho a sensação de q os artistas de São Paulo querem mais fazer do q assistir. Estão todos em cartaz... Ir ao teatro, só com os Lés Éphémères...

Final de semana tem mais... É necessário?