terça-feira, 27 de novembro de 2007

Como é um fracasso?

Não sei ao certo, mas acredito que nessa segunda temporada dA Última Quimera, nós produzimos um fracasso. É sempre complicado definir o fracasso e na mesma medida o sucesso de um espetáculo. Aqui, uso como baliza o público espontâneo (aquele que não tem vínculo imediato com alguém da peça) que tem comparecido para ver a peça. Neste último final de semana tivemos, acho, três pessoa assim. Com mais de um mês em cartaz (sem contar a primeira temporada no Sesc Avenida Paulista) o espetáculo não desperta o interesse do público. O tal boca-a-boca não aconteceu. Somos um fracasso.

Tem seu lado divertido, mítico, necessário, incompreendido. Tem tudo isso. Mesmo assim, não é fácil degustar cadeiras vazias numa platéia que cabem “somente” 50 pessoas. O que fazer?, sentar sobre as cinzas da casa, lamentar-se e cocar-se com cacos de telhas como um Jó abandonado por seu deus? Não... Nosso deus nunca nos abandona. Uso esse espaço para refletir:

Fizemos 5 temporadas com CHALAÇA a peça. Exceto a primeira, feita no Sesc, com média de mais 150 pessoas por apresentação, as demais foram quase um fracasso. No Alfa, cancelamos antes do final (lá apresentamos para uma pessoa) – Ah, mas era no Alfa! No TUSP, de quarta e quinta, tivemos média de 25 pessoas. No Sérgio Cardoso, também de qua e qui, médio de 18 pessoas. No Cacilda Becker, final de semana, média de 10 pessoas. Cada temporada com sua característica: anúncio em guias especializados, assessoria de imprensa terceirizada, filipeta, promoção em sites e jornais, críticas... Ingressos entre 10 e 20 reais. Mal conseguimos pagar nossos custos com essas temporadas.

Com a Quimera, temporada no Sesc. 60 lugares. Lotação sábados e domingos, sexta meia casa. Ingresso: 15 reais inteira.

São Paulo Capital é sem dúvida a cidade mais contemplada com verba pública para criação teatral. Basta um breve olhar nos resultados dos editais do Governo Federal e Estadual para perceber o quanto os grupos ou artistas de São Paulo recebem. Às vezes, contemplados pelos dois (Estado e União) e ainda pela Lei de Fomento ao Teatro do Município de São Paulo. Muito dinheiro (talvez não o suficiente, mas colocando em perspectiva nacional, sim muito dinheiro) circulando na cidade de São Paulo para se fazer teatro. E o público? Ele está compartilhando dessa “primavera teatral”?

Conversando com amigos e conhecidos (por enquanto estou no limite da informalidade), descubro que os espetáculos em carreira fora do Sesc vão mal das pernas. Espetáculo gratuito no SESI e com meia casa? Espetáculo na praça Roosevelt com apenas 7 pessoas. Espetáculo no Viga com 10 pessoas. Espetáculo no Teatro Augusta com 5 pessoas. Espetáculo de grupo de pesquisa em sede própria com 3 pessoas... E assim vai... Infinitos exemplos. A lista de convidados com trocentos nomes... E nada.

Há quem aponte o local como o problema: o público não chega, não se desloca. Outros dizem que é o preço. Outros que a qualidade das peças deixa a desejar. Outros reclamam da divulgação... Eu não sei. Percebo que nem a classe teatral vai ao teatro. Alegam falta de tempo... Afirmam que o teatro está chato... Estão em cartaz...

Não sei. É preciso começar a discutir o problema e apontar soluções precisas. É preciso saber, de fato, por que as pessoas não vão ao teatro; e fugir um pouco do achismo (disfarçado de empirismo) dos especialistas de plantão. Indague aos seus amigos e familiares: qual foi a última vez que foram ao teatro e o que assistiram? Respostas são necessárias.
São Paulo tem centenas de peças em cartaz. Dinheiro para quase todos os tipos de produção. Onde está o público?

Minhas últimas experiências com teatro lotado foram: Theatre du Soleil (dã!) e Primus (dia promocional obrigatório R$ 1,90). E aí, por que vc não vai ao teatro hoje?

2 comentários:

Fabrício Muriana disse...

Oi Carlos

Essa angústia do "onde está o público?" também tem me atormentado em vários momentos.
Não consigo definir um fator essencial pra isso. Mesmo no Sesc vejo fracassos de bilheteria.
Mas de uns dias pra cá, não sai da cabeça uma montagem do grupo Kiwi, de curitiba. É de 97 a primeira encenação, mas só vi esses dias. Adaptação de um texto de Denis Guénoun, chama-se carta aberta. Trata de questão de pra quem fazemos, mais no nível discursivo, do que formalizando. E aí incluo o que a gente tenta fazer na Bacante tb. Acho que vou ter no meu email dentro em pouco. Se de fato tiver, te mando. Abraço.

marcio castro disse...

ah canhameiro, apareço aqui com o meu achismo disfarçado de empirismo, de muito pagar do bolso temporada, e digo: que adiante os milhões a o programa de fomento de teatro PARA a cidade de são Paulo se a cidade de são paulo não sabe que é PARA ela? Ainda estamos preocupados com nossos carnavais, criticar a cpmf (com toda propriedade, acredito, mas é só isso?) e tomar pinguinha falando do terremoto em MG. Mas e aí?

empirismo disfarçado desabafado